Na Hollywood Corporativa

por Eduardo Cupaiolo 

Apesar de termos só um CPF e sermos para a Receita Federal apenas uma Pessoa (Física), no ambiente social cada um de nós representa ao mesmo tempo inúmeros papéis. Ou como diriam os gregos, muitas personas ou personagens.

Somos, ao mesmo tempo, pais dos nossos filhos e filhos de nossos pais. Professores de nossos alunos e alunos de nossos professores. Candidatos de nossos eleitores e eleitores de nossos candidatos. Clientes de nossos fornecedores e fornecedores de nossos clientes. Empregados de nossos patrões e patrões de nossos empregados.

A quantidade de papéis é infinita, e queiramos ou não, estaremos sempre em um palco diferente e interpretando diferentes papéis.

A vida, na verdade, nos ensina a sermos assim. Já, desde criança, nos encantamos brincando de sermos quem não somos

. As meninas brincam de casinha. Agora eu sou a mamãe e você é o bebê. Os garotos, por sua vez, fingem serem super-heróis. Eu sou mais forte que o Hulk! Eu posso voar! Eu consigo escalar paredes como o Homem-Aranha. E haja gesso para tantas pernas e braços quebrados.

É moda que não muda. E neste cenário o cinema desde o mudo até o 3D, sempre foi um grande influenciador dos nossos comportamentos. O tempo passa, mas o hábito de nos espalharmos em suas personagens, fica. Ele sempre fez nossas cabeças. Por dentro e por fora.

Já usamos penteados esculpidos a laquê como as divas dos anos 50, cheios de brilhantina da juventude transviada, compridos como os dos Beatles, descuidados e desengranhados com em Hair, longos e cacheados como os de Farah Fawcett ou zerados como os de Demi Moore em Até o Limite da Honra.

No mundo corporativo, ou ainda melhor, no palco corporativo não podia ser diferente. Se olharmos detidamente à nossa volta veremos, por todo o escritório um monte de gente (nós inclusive, não foge não) que quando cruza a catraca eletrônica lá na portaria bem podia estar saindo de um camarim.

Se olharmos com cuidado, vamos nos sentir na Hollywood Corporativa. São personagens de todos os tipos: sérios, engraçados, admiráveis e alguns nem tanto, mas podemos aprender um pouco com cada um. No mínimo aprenderemos a conviver com as diferenças.

Listo a seguir algumas delas. Divirta-se. 

Encontre a sua, as dos seus colegas e, certamente, a do seu chefe.

- Luz, câmera ação.

Adrian Cronauer (Robin Williams em Bom dia, Vietnam). É um grande motivador da equipe, refresca o clima corporativo. Mesmo diante de situações difíceis como as guerras que toda organização enfrenta todos os dias é capaz de achar en

ergia bastante dentro de si para energizar os outros. Ás vezes é confundido com o bobo da corte, mas na verdade, sabe muito bem o que está fazendo. E faz muito bem feito.

Rocky Balboa, (Sylvester Stallone em Rocky). É, com perdão pelo óbvio, um lutador. Nasceu lá na base da pirâmide social. Nunca teve a oportunidade de seus pares. Foi conquistando seu espaço no ringue da organização a cada round, a cada nova luta. Seu currículo é uma curva ascendente com uma coleção de cinturões de ouro. Já apanhou muito da vida, mas sua persistência fez dele um vencedor.

William Wallace (Mel Gibson em Braveheart). O idealista. Um sujeito disposto a morrer (e a viver) por uma boa causa. Exatamente por isto é tão admirado pelos seus amigos quanto perseguido pelos que se incomodam com seu apego a valores elevados. Por isto mesmo, não raras vezes, preferem primeiro torturá-lo bastante antes de mandá-lo embora.

Gordon Gekko (Michael Douglas em Wall Street). Duas de suas frases memoráveis definem seus valores:”A ganância é boa” e “Se você precisa de um amigo, arranje um cachorro”. Gekko é o foco em resultados em pessoa, ao vivo e em cores, muitas das vezes, vermelho sangue. É um trator. Sugestão, não fique na frente dele, o único amigo dele é o Rex – e ele tem quatro patas.

Zorro (Lone Ranger), não, não é o da capa preta que vivia enganando o Sargento Garcia. É aquele cowboy, aquele do Aiouuuu, Silver. A personagem pior representada no palco corporativo. Muitos autores dizem que a idéia do executivo “eu sozinho” é inspirado na figura dele. Esquecem-se que ele tinha um companheiro de aventuras: o Tonto, lembra? Sinal de que estória de quem consegue fazer tudo sozinho não existe nem no cinema.

Dorie (A peixinha de Procurando Nemo). É a incentivadora. Continue a nadar, continue a nadar – ela insiste sem parar. É alguém que a gente quer e precisa ter do nosso lado. Não deixa a gente desistir nunca. Não importa o tamanho do desafio. E vai além. Aliás, vai de verdade. Vai junto com a gente sem esperar ganhar nada em troca. Só por amizade mesmo.

Deloris Van Cartier (Whoopi Golberg, em Mudanças de Hábitos). É a revolucionária. É a inconformada. Não se adapta ao jeito paradão das coisas à sua volta. Faz perguntas desconcertantes. Não aceita o “sempre fizemos deste jeito por aqui” como resposta. Discute paradigmas, agita o pedaço. É uma personagem importante para dar uma nova vida em algumas organizações que estão parando no tempo.

Maverick, (Tom Cruise em Top Gun). O audacioso. Não teme o perigo, está sempre disposto a correr riscos. Esta é a parte boa, por outro lado talvez toda sua audácia esteja associada à pouca idade, à falta de experiência. Quem sabe não tenha medo apenas porque ignora os riscos. Com mais alguns anos, talvez se torne mais cauteloso, mas será sempre um Ás Indomável.

Mark Thackeray (Sidney Poitier, em Ao Mestre com Carinho). Um exemplo de people person. Sempre preocupado com o desenvolvimento dos outros. Pode até parecer um gestor como qualquer outro, gerente disto, encarregado daquilo, não importa, ele sempre se importa com as pessoas. Faz como que a pessoas cresçam não apenas os resultados no balanço. Mais, faz com que os resultados do balanço cresçam por causa do crescimento das pessoas.

Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis, em O Sexto Sentido), é um fantasma. O filme é de terror mesmo. O cara já morreu e não sabe. Ninguém fala com ele. Não é mais chamado para as reuniões importantes. Virou encarregado de um daqueles projetos chatos que nunca começam ou nunca terminam. Tornou-se obsolento (eh, com n mesmo). Precisa urgente de alguém que o guie para luz. O faça voltar a vida, na mesma empresa ou em outro filme. Onde ele se torne quem sabe, Duro de Matar.

Dr. Indiana Jones (Harrison Ford, em Caçadores da Arca Perdida). Indiana Jones devia ser a personagem símbolo do pessoal de TI. Tem tudo a ver. Primeiro, adoram aventuras e perigos. Quer aventura mais perigosa do que implantar um novo sistema? Como Arqueologia, são especialistas em algo que a maioria das outras pessoas nem dá bola. Enfrentam um dia-a-dia bastante complicado. Para todo lado que olham é pedra rolando em cima deles, tiros, flechas e até fantasma (sistema antigo que ninguém sabe quem fez nem como faz) e para escaparem é sempre usando ponte balaçando em cima de precipício. Mas eles adoram o que fazem. Vivem em busca de grandes tesouros. O principal: agradar o cliente.

Maggie Carpenter (Julia Roberts, Em Noiva em Fuga). É a indecisão em pessoa. Quer-mas-não-quer. Vai-mas-não-vai. Começa muita coisa, tem iniciativa, mas lhe falta acabativa. Falta assumir compromisso. Sua frase mais comum é “Sim, tenho certeza. Eu acho”. Não dá para confiar em suas decisões. Uma hora está dentro do barco e mal a gente vira a cabeça está lá na margem acenando para gente.

Kyle Pratt (Jodie Foster, em Plano de Vôo). Exemplo da profissional excelente, com uma bela carreira, com uma coleção de excelentes resultados, mas que por nada abre mão de ser uma excelente mãe. Nada a faz esquecer de sua família. Não adianta falar que ela é maluca. Para esquecer o assunto. Ela tem suas prioridades no devido lugar e sabe muito bem conciliar sua agenda. Infelizmente coisa rara de se ver.

Charles Remington e Col. Jonh Henry Patterson (Michael Douglas e Val Kilmer em A Sombra e a Escuridão). São dois excelentes exemplos do que é trabalhar com vendas. Ter de caçar uma fera por dia. Ter de levar o negócio nos trilhos, atender as expectativas da organização. É preciso ter muita coragem. Mesmo contando com as melhores armas, com os melhores recursos tecnológicos a seu dispor o dia-a-dia lá fora, quem já experimentou sabe bem que é dose para leão.

Chuck Noland (Tom Hanks em O Naufrago). É o mais comprometido da empresa. O cumpridor dos seus deveres. Se aceitar uma tarefa, pode ter certeza, vai cumpri-la. Pode até ficar perdido por muitos anos numa ilha deserta, mas vai entregar o pacote. O famoso “pode contar comigo”. E a gente pode contar mesmo.

Maximus (Russell Crowe em O Gladiador). O líder de verdade. Não por que tem o poder hierárquico e comanda a tropa, mas, principalmente, por que enfrenta os desafios lado a lado com sua equipe. Vai na frente. Arrisca a própria pele. Reparte as glórias. Reconhece os esforços de cada um. Inspira. Serve de exemplo.

Woody Allen. Sim eu sei, ele não é uma personagem (ou será que é?). Mas não podia ficar fora da lista. É o talento escondido. A grande surpresa. Parece um zero a esquerda: feinho, magrinho, baixinho, mal vestido, voz esganiçada. Figura estranha. Mas um gênio. Deixa claro que não importa com que personagem alguém possa se parecer, a verdade é que a gente não pode julgar as pessoas só pela aparência.

Eduardo Cupaiolo é Diretor e Consultor da PeopleSide.

Saiba mais como podemos usar personagens e situações de filmes comerciais para alinhar e desenvolver sua equipe em Leadership Through the Movies.