Por Eduardo Cupaiolo

Defendi em meu ensaio Planos Passados para o Futuro que não faltam planos, falta vontade. Declaração imagino forte demais para alguns, radical demais para outros, demasiadamente simplista para a maioria.

Pesada, radical ou simplista pois parece ignorar todos os demais fatores determinantes no sucesso de um projeto: circunstâncias contrárias de toda ordem, falta de oportunidade, falta de sorte,ausência de privilégios, limitações e barreiras físicas, sociais, econômicas, religiosas e raciais,e as grandes resistências de todos e de tudo e por aí vai. Ou não vai, porque não deixam.

Por outro lado, admitamos, a história está repleta de exemplos de homens e mulheres cujas realizações foram grandiosos apesar de enfrentarem poderosos ventos contrários.

Não foram os pequeninos, pobres e franzinos Gandhi e Madre Tereza que desenharam uma nova realidade para a sofrida população da Índia?

Não foi enfrentando o chumbo mortal de seus adversários que Luther King buscou garantir o respeito aos direitos de todo humano independente da cor da pele?

Dificuldades portanto não são impedimentos. E se não são, o que seria? Só mesmo a falta de vontade.

Sucesso, alguém já disse com muita propriedade, é o encontro da oportunidade com a competência. Oportunidade muitas das vezes é sorte, obra do acaso, fator aleatório. Simplesmente aparece.

Já competência não. Competência é terra conquistada por alto preço, arada com muito suor, semeada com boa semente, irrigada, adubada, para só depois, e depois, e depois de muito tempo dar seus frutos.

Bom lembrar, competência não é diploma. Muito menos se for um conquistado com cola e carona nos trabalhos dos outros. Competência não pode ser emprestada, competência se conquista, competência só nasce de esforço e esforço só nasce de vontade.

Quantos de nós sedentários apresentamos sempre ótimas desculpas para não assumirmos uma dieta decente, rotina de sono saudável, abandono de vícios estúpidos e  de entupir de graxa nossas artérias, deveríamos nos espalhar na disciplina e na vontade dos para-atletas.

Deveríamos corar de vergonha ao vermos estes super-humanos, superiores apenas em zelo e vontade, superando suas limitações e alcançando resultados muito além do que a maioria de nós, ditos normais, sonharíamos em alcançar.

Só porque, ao contrário deles, nos faltam sonhos e vontade.

Desculpas, sim desculpas não faltam e  todos nós as temos. E muitas. Mas elas raramente têm realmente algo a ver conosco: meu pai nunca deixou, as condições financeiras não permitem, nunca tive um violão, não tenho tempo, nunca pude, nasci de 7 meses, tenho miopia, tenho uma verruga no dedão.

Sei que a verdade dói, mas o problema não está fora de nós. O problema somos nós. O que falta, faltou e sempre faltará é vontade. Para cada um de nós e para cada uma de nossas mais do que justificáveis justificativas haverá dezenas, centenas, milhares de exemplos dos que apesar das adversidades foram lá e fizeram.

Não faltam exemplos. Só falta vontade. 

Decisão de acordar cedo, ralar, economizar, dedicar-se ao máximo, suar sangue, desapegar-se de mal hábitos e das más companhias. É batalhar. É trabalhar. É ser honesto, é conquistar por competência não com jeitinho,  gol de mão, caixinha ou anabolizante.

É arremessar 700 vezes a bola no treino para depois ser batizado de Mão Santa. Mão Santa, a vovozinha. Mão treinada. Dolorida. Cansada. Lesada de tanto esforço repetitivo.

Sorte? Má sorte? Nem sorte nem má sorte, só trabalho. Só esforço explicam o sucesso dos vencedores. Dos verdadeiros vencedores.

A maioria deles anônimos. Heróis sem podium, sem faixa, sem troféu, sem medalhas. Heróis que venceram seu maior adversário. Venceram a si mesmos. Conquistaram com muita dor e sofrimento a luta interior, de domar a indolência, a postura de vitima, os sussurros entorpecentes da ladinha chorosa do é impossível.

Homens, mulheres, e até crianças, que são apenas pessoas. De carne e osso. Cuja única diferença real para cada um dos nós é que tiveram e têm vontade.

 

 

Eduardo Cupaiolo é Diretor e Consultor da PeopleSide.