O que não fazer no LinkedIn

por Eduardo Cupaiolo 

Recebi uma inesperada mensagem de Reid Hoffman, o fundador do LinkedIn. Nela ele me agradecia por fazer parte do primeiro milhão de membros. Foi quando descobri que descobri que fui a 388.177a. pessoa a ingressar em uma rede que hoje tem 120 milhões de membros no mundo 4 milhões deles só aqui no Brasil.

Da mesma forma, em 2009 quando recebi o convite de Uilson Fernandes para ser um dos gestores do seu recém-criado grupo BVE – Brasil Vagas Executivas, não podia imaginar que em 2 anos ele se tornaria o maior grupo do LinkedIn na língua portuguesa, passando dos 75 mil membros.

E foi nestes anos todos freqüentando esta rede e, especialmente, as obrigações de um manager do BVE que me demanda ler todos os dias dezenas de posts o que me levou a escrever este artigo.

Escrevo pela tristeza e preocupação por ver quantas pessoas prejudicam sua imagem por erros tolos, por tolices que escrevem, pela forma com que tratam os demais membros, pelas fotos que colocam em seu profile, pelo descuido com a gramática e com as normas primárias do convívio social.

Muitos, infelizmente, não conseguem sequer discernir a radical diferença entre uma rede profissional como LinkedIn  de uma rede social mais típica como Facebook e Orkut,  e se portam na primeira como se estivessem nas duas outras. São excessivamente descontraídos ao ponto de colocarem fotos usando óculos escuros ou não usando camisa.

Há alguns dias resolvi criar um debate (discussion) com o título O que não fazer no LinkedIn onde postei cerca de 30 recomendações para evitar que os participantes do grupo comprometam sua imagem e por causa disto diminuam suas chances de desenvolvimento profissional e em muitos casos, o de conseguirem se recolocarem no mercado.

Para minha agradável surpresa só recebi feedbacks muito positivos e, dentre eles, solicitações para que transformasse meus posts em um documento que pudesse ser publicado em outros grupos.

Este é a razão e o conteúdo do que lerá a seguir. Chamo a atenção ao fato de que preferi manter os termos profileposts ediscussion, pois acredito que a tradução dos mesmos além de desnecessária poderia prejudicar o entendimento do texto.

Não menospreze a importância de detalhes. Todos eles. Cada frase, cada dado, cada palavra, tudo é importante.  As pessoas não te conhecem, só sabem de você pelo que vêem (sua foto) e pelo que lêem (seu profile e seus posts).

. Cuidado com erros gramaticais e de digitação. O segundo pode ser confundido com o primeiro. Em caso de dúvida, use palavras e expressões simples. Escreva de forma simples. Com frase curtas. Como eu fiz agora.

. Cuidado com declarações polêmicas. Você poderá ser lido por milhares de pessoas. Não se exponha desnecessariamente. Se seu objetivo é discutir questões polêmicas procure fóruns mais apropriados.

. Não tente “aparecer”. Melhor ser um “ilustre desconhecido” do que “famoso” pelas razões erradas.

. Injúrias e calúnias são crimes. Não use termos ofensivos, nem levante insinuações que não possa provar.  Aliás, para que levantar insinuações?  Você está aqui para aumentar sua rede de relacionamentos e ampliar as suas oportunidades ou para arranjar problemas? Para conquistar alguns novos amigos ou um monte de desafetos?

. Não fale mal de headhunters. Um dos alvos preferidos de um grupo que reúne profissionais em momento de transição é as empresas de hunting e de recolocação. Primeiro, sendo bem práticos, por que polemizar com um tema já tão desgastado? Todos já sabem que o mercado esta infestado de empresas de fachada, estelionatários que abusam de boa fé de quem está numa situação de fragilidade para, literalmente, lhes bater a carteira. Se você tem ou tiver problemas com um ou com muitos deles, o melhor caminho é recorrer à polícia e à justiça.

Por outro lado, como não poderia deixar de ser, no mercado de hunting e de recolocação também há muitos bons profissionais e empresas sérias e são exatamente eles (e não os pilantras) que têm grande influência no mercado, tanto porque são contratados pelas empresas para encontrem os melhores profissionais, quanto pela possibilidade de indicarem você como sendo um desses melhores profissionais.

Pergunto, então, se não é uma péssima idéia gerar uma imagem altamente negativa em função de ataques generalizados? Deixe me pensar, o que o profissional em busca de uma recolocação ganha com isto?………?!…….?!………?! É… acho que nada.

. Não colecione conexões.  Colecionar conexões prá quê? O LinkedIn não é uma rede em que se colecione seguidores nem amigos. É uma rede de contatos profissionais, ainda que possa incluir e evoluir para relacionamentos de amizade.

Além disso, segundo a Lei Universal dos Relacionamentos (que eu acabei de criar) quanto mais relacionamentos você possuir mais superficiais eles serão. É esta a imagem que você quer passar?

Falando nisto, pega muito mal anunciar “aceito qualquer pedido de conexão”. As interpretações que darão para esta frase serão: não tenho contatos, não sei construir novos relacionamentos, estou desesperado, ou ainda pior, estou atrás de quantidade não qualidade. O que fica de bom nisto? Nada.

. Não dê destaque ao número de conexão que você possui. Creio que o LinkedIn só destaca automaticamente quem tem mais de 500 conexões. Até seus gestores acreditam que esta informação já é o bastante para distingüir que um membro tem um bom número de referências.

Por quê, então, chamar atenção para o fato de você ter mais do que isto?  Do que vale mostrar o tamanho de sua caixinha de cartões?

. Não aceite todos os convites que receber. Não caia na tentação de querer ser o cara mais legal e também não tenha medo de não ser o cara mais legal do LinkedIn. Um convite é o que é, a declaração do interesse de alguém em fazer parte de sua rede de relacionamentos e você não tem a obrigação de aceitar este convite. Não tem.

Ao incluir alguém entre seus contatos você está, ainda que não queira, associando o nome dela ao seu. Ou seja, ainda que sutilmente endossando a reputação dela. Por que fazer isto com uma pessoa que você mal conhece? Porque ter mais uma pessoa em sua rede. Porque ter esta pessoa em sua rede? Só para ter? Pense sempre em qualidade nunca em quantidade.

Aliás, muito importante, o LinkedIn também permite que você desfaça uma conexão sempre que desejar.

. Não convide alguém para estabelecer uma conexão, se não deseja manter alguma forma de contato. Se não há nenhuma afinidade entre vocês porque criar a conexão? Por afinidade entenda-se,  temas de interesse, área de atuação, grupos comuns, relacionamentos comuns, interesses comerciais.

Se há, então procure estabelecer alguma forma de conexão mais próxima e real. Não deixa que uma pessoal real passe o resto da vida apenas com um registro virtual.

. Não use as frases padrão ao fazer um convite. Nada mais deselegante que usar uma frase pré-fabricada, seca, impessoal (e em outra língua!), para tratar com alguém que não se conhece e, ainda mais assustador, com quem se deseja estabelecer um relacionamento. Por favor, altere a mensagem padrão para algo, minimamente, pessoal. Minimamente.

Da mesma forma, não use o termo “adicionar”. Provavelmente na cultura americana, a expressão “to add you” seja comum, mas numa cultura de mais proximidade como a nossa, dizer que vai me adicionar à sua rede, soa de forma muito indelicada, como se eu fosse simplesmente +1.

 Não convide pessoas para fazerem parte da “sua” rede. Mesmo que esta não seja a sua intenção, ao convidar alguém usando termos como “gostaria de convidá-lo para fazer parte da minha rede”, você passa a mensagem que você e sua rede – são mais importante do que a outra pessoa e a rede dela, e que, portanto, ela deve ser sentir muito honrada pelo convite, quando na verdade, nós é que nos deveríamos sentir honrados se ela aceitasse o nosso convite.

. Não confie nem force uma intimidade que não possui. Certamente mais um hábito herdado de outras redes sociais que alguns trazem para o LinkedIn é um tratamento excessivamente informal, beirando, quando não caindo, no abismo do desrespeito.

Não se deve chamar Cristina de Cris nem Eduardo de Edu nem finalizar uma mensagem com “um beijo” .

Para todos os fins, estamos em um ambiente profissional, e não vejo porque tratar recém-conhecidos como se fossem grandes amigos. Pior, quando sequer são recém-conhecidos, só alguém com quem se trocou duas frases em um debate.

Duas dicas simples. Se você tem menos de 35 anos, num primeiro contato não trate alguém com mais de 45 usando “você”. Comece com senhor/senhora. Garanto você não perde nada e, do contrário, arrisca muito.

Deixe o outro oferecer espaço. Por exemplo, se você me escreve me tratando de Sr. Cupaiolo, e eu te respondo assinando Cupaiolo, use Cupaiolo. Se respondo usando Eduardo, use Eduardo. Se eu te respondo assinando Edu, use Eduardo.

. Não acrescente títulos ao seu nome. Primeiro porque este não é um comportamento típico de nossa cultura e exatamente por causa disto soa esnobe (e mais esnobe quantos foram os títulos). Note, inclusive, que até médicos e advogados no LinkedIn abrem mão de seus títulos.

Segundo, porque na rede temos milhares de profissionais certificados, com MBAs, mestrados, doutorados e outros títulos, portanto, chamar tanta atenção assim para teus títulos não vai te colocar numa posição de especial destaque.

Deixe para colocar estas informação no espaço apropriado no corpo de seu profile.

. Não deixe seu profile sem foto, mas não use qualquer foto. Evite posses sensuais e charmosas. O LinkedIn é uma rede profissional. Não pode, nem deve, ser interpretada como uma rede de relacionamento pessoais.

Não use a foto “do RG”, da carteira de motorista, do clube, nem aquela que tirou quando tinha 17 anos.  Ela não precisa ser tirada por um profissional, se bem que vale a pena o investimento – mas não pode ser qualquer uma.

Não use óculos escuros. Coloque seu rosto em primeiro plano. As pessoas precisam te conhecer, não o logo da empresa em que você trabalha, sua mesa de trabalho, a linda paisagem que você visitou nas férias ou qualquer outra imagem que não a sua. Não inclua outras pessoas na foto. Especialmente sua família. Esta rede é profissional não social, certo?!

Use trajes sociais. Nada de roupa esporte. Nem “de esporte” ou traje de banho. Nada de camisa de time de futebol. Quer ser contratado apenas por outro fã de seu time?

Mas coloque sua foto. É um sinal de respeito, cordialidade, reciprocidade. Se você quer conhecer os outros precisa se dar a conhecer. E o que mais nos distingue dos demais do que o nosso rosto?  Por que não usar? Privacidade? Se você coloca todos os teus dados na rede, qual a diferença de colocar uma foto? Particularmente, me incomoda muito profiles sem fotos. Muito. Deixam-me com a impressão de que a pessoa está se escondendo. Escondendo algo sobre ela.

. Não escreva seu profile em inglês sem o conhecimento necessário. Se não tem certeza absoluta de que está usando os termos certos, peça ajuda de alguém que realmente domina o idioma para te ajudar. Caso contrário, melhor escrever em português. Só em português.

. Não escreva seu profile nem em português sem o conhecimento necessário. Não basta apenas escrever certo, é preciso saber o quê escrever e como fazê-lo. Se tem dúvidas, consulte ajuda especializada. Como já falamos, as pessoas não te conhecem, só sabem de você pelo que lêem e vêem. 

. Não escreva um profile extenso. Não coloque tudo o que já fez. Apresente apenas o que for mais relevante. Com o perdão do trocadilho, o prolixo vai pro lixo.  Se alguém está interessado em alguém com sua experiência, precisa saber qual a sua experiência, não quais todas as suas experiências.
Você precisa deixar claro o que fez e o que quer e pode – fazer.  Um resumo com 6 ou 7 linhas – no meu modo de ver – fará muito mais diferença.

Particularmente, quando quero saber mais sobre alguém, corro primeiro a vista sobre o nome, cargos atual e anteriores, empresas e, períodos. Depois vejo se temos alguma relação, contatos em comum, empresas, áreas. Se algo me chamar a atenção aprofundo a analise.

Acho que recrutadores fazem o mesmo.

. Não negligencie nem abandone seu profile. Uma vez que você aceitou se tornar membro dessa comunidade deve aceitar suas normas de convivência e seu profile é uma parte muito importante nisto. Você não precisa, nem deve, escrever umprofile minuncioso, mas não pode pecar pela omissão. Não inclua apenas duas ou três informações sobre sua posição atual e pronto. Isto demonstra tanta falta de  interesse por esta comunidade que provocará a mesma reação de seus membros para com você.

Por isto, inclua, pelo menos, as informações mais relevantes, como cargos, empresas, períodos, responsabilidades e sua formação acadêmica. Isto é o mínimo.

Além disto, mantenha as informações atualizadas. Seu profile (não à toa que chamamos nosso currículo de vitae) deve ser um registro vivo e dinâmico de sua evolução pessoal e profissional.

Em especial, mantenha atualizado o seu e-mail para contatos. Imagine a tristeza de perder uma oportunidade em função de seu e-mail ser da empresa anterior ou porque é um antigo que você não consulta mais com tanta freqüência.

. Faça contatos e refaça contatos. É para isto que esta rede serve. Se pretende deixar sua rede com apenas com uns 20 ou 30 contatos, a impressão que passará será péssima e o efeito tão desastroso que o melhor é não permanecer no LinkedIn. Se é ruím ver alguém propagando seus 2500 contatos é igualmente ruim ver que você não se deu nem ao trabalho fazer convites nem de aceitar o de seus relacionamentos mais próximos. Dá o que pensar, não?!

. Jamais, jamais, jamais manipule informações.  Se não lembra, se não tem certeza, não coloque a informação. Não coloque um nome de cargo que você prefere em vez do que você exerceu. Se foi Analista não diga que foi Consultor. Se foi Supervisor não diga que foi Gerente.  Não ajuste datas para aumentar sua experiência, diminuir sua idade ou para disfarçar períodos em que não esteve empregado.

Não use indevidamente o nome de empresas. Se trabalhou para uma empresa que prestava serviços para a Nestlé, coloque o nome daquela empresa não da Nestlé e cite que atuou através dela na Nestlé. Não diga que um curso tem um nível que ele não têm. Já vi curso de 2 semanas virar Mestrado.

. Não minta. Muito chato ter de dizer isto. Mas infelizmente preciso dizer.  Estamos em uma rede aberta. É cada vez mais fácil checar uma informação. Se for reconhecida sua má-fé suas chances de uma recolocação vão virar pó. A gente leva um milhão de anos para conquistar reputação, não jogue a sua fora em um segundo. Uma vez perdida, perdida estará para sempre.

. Não escreva posts longos. O resultado é oposto do esperado: você escreve muito e é lido por poucos.Ninguém agüenta ler aqueles lingüições  sem fim. Você apenas perde um tempão, dá a impressão de que não tem nada mais importante para fazer, faz pouca ou nenhuma diferença dentro do grupo, e não será reconhecido como alguém que tem algo a acrescentar.

Sobre os lingüições, por favor, use parágrafos. Por quê escrever sem parágrafo? Incrível a quantidade de pessoas que escrevem posts sem eles. Parece uma norma de uma sociedade secreta. Por favor, pule linhas. A leitura fica muito mais clara, limpa, agradável.

. Não divague. Ao incluir um comentário em uma discussion não deixe de responder o que foi perguntado. Normalmente as discussions são redigidas em forma de perguntas, o que me parece bastante apropriado pois incentiva o debate. Não é raro, entretanto, que alguém inclua um comentário que não emite qualquer opinião a respeito do que foi perguntado. Parece que a pessoa está falando sozinha ou que pegou uma carona na idéia de quem lançou a discussão apenas para “se mostrar”.

Recentemente, alguém abriu uma discussão aberta pedindo explicitamente que as pessoas se colocassem dentro de determinada situação, algo como “e se você fosse….” e, mesmo assim, a maioria dos comentários não levaram isto consideração.  Muitas eram extremamente vagas ou colocavam a questão de forma intelectualizada e impessoal.

. Não faça comentários desnecessários. Não escreva por escrever nem se envolva em temas nos quais não tenha razoável domínio. Se expor prá quê? Uma idéia melhor: inicie uma discussão sobre um tema que domine. Mais fácil, não?

. Não use letras maiúsculas. Particularmente sinto uma falta danada de recursos de estilo como negrito, itálico, tipos diferentes de letras, cores quando estou escrevendo um post. Para mim eles sempre funcionam como uma forma de imprimir mais clareza ao meu texto e por causa disto às vezes também sofro a terrível tentação de usar maiúsculas para enfatizar algum termo.

Mas, não sucumba à esta tentação. No meio digital palavras em caixa alta representam gritos. Ou seja, significa que você está gritando com a pessoa que está lendo, o que convenhamos, não é nada gentil.

Portanto, de jeito nenhum, GRITE!… rs

A propósito, se tiver dúvida que seu humor (como eu tentei exprimir há pouco) possa não ser compreendido inclua obrigatoriamente um “rs” (risos) no final da frase ou onde for mais apropriado.

. Não abandone um debate (discussion) que você iniciou. Nem temporariamente nem definitivamente, a menos que informe claramente que o fará. É muito estranho notar que alguns iniciam o tema e deixam, às vezes por dias a fio, os outros membros debatendo sozinhos. Mais chocante, quando o iniciador é inclusive citado ou alvo de perguntas e não dá qualquer retorno.

Antes, portanto, de iniciar um debate é bom que se preparar para cuidar “da criança” enquanto o debate se mantiver no ar.  O que, por lógica, multiplica exponencialmente a carga de trabalho se você iniciar mais de um debate ao mesmo tempo e pior ainda, se em grupos diferentes.

Lembrando sempre que o que está em jogo é nossa auto-imagem diante de um público potencial de algumas centenas de milhares de pessoas.

Finalmente, cuidado com posts de cunho comercial.  Primeiro tenha certeza de que o produto/serviço é relevante para a população daquele grupo. Não anuncie imóveis, carros, ofertas de correntes e pirâmides (que, a propósito, são crime).

Há uma linha muito tênue entre encontra clientes em potencial e desenvolver um relacionamento com eles com vistas a negócios futuros e simplesmente vender coisas no LinkedIn. Bom, pensando bem, a linha não é tão fina assim.

Eduardo Cupaiolo é Diretor e Consultor da PeopleSide.