Experts. Quanto custam ou quanto valem?

 

Não levou muito tempo para perceber que o filme era ruim. De doer. Mas eu já tinha alugado e pensei que talvez conseguiria tirar um pouco de leite daquela pedra.

A trama se passava na China. O pai, bilionário, dono da maior empresa farmacêutica da Ásia estava à procura de seu filho único desaparecido há 3 anos. Para encontrá-lo contrata um ex-agente da CIA.

- Não se preocupe com as despesas, gaste o quanto quiser mas encontre meu filho.

De repente me peguei em reflexões interessantes. O pai tinha um monte de dinheiro…. ok, mas por quê contratar exatamente aquele sujeito?

A minha melhor resposta foi: porque ele era um expert.

A singela descoberta me levou então a outras perguntas. Mas o que fizera dele um expert? O quê na verdade faz de alguém um expert? Como alguém se faz um expert? O quê um expert faz?

Para minha satisfação aquele filme ruim rendeu insights que eu não esperava. Nem o diretor dele com certeza.

 

1. Todo expert é um especialista mas nem todo especialista é um expert.

Dr Adib JateneEspecialista sabe muito a respeito de uma coisa só. E só. Expert sabe tudo a respeito daquela mesma coisa, mas também sabe muito das outras coisas que são importantes para saber tudo da primeira coisa.

Como o Dr. Adib Jatene. Um expert em cirurgia cardíaca. Conhece tudo do assunto. Mas também é um excelente médico, um generalista, com um visão do todo. Capacitado para avaliar numa fração de segundos como cada uma das opções para resolver um impasse na mesa de cirurgia afetará e será afetada pelas milhares de funções e reações do organismo humano.

Ele sabe que tudo está entrelaçado e que não pode olhar apenas para a árvore e se esquecer da floresta. Mas como ninguém sabe tudo a respeito de tudo, expert, expert meeesmo ele é em cirurgia cardíaca.

 

2. Para se tornar um expert é preciso tempo e experiência. Mas tempo e experiência só, não são suficientes.

Em Outliers, o autor Malcolm Gladwell apresenta a Regra das 10 mil horas. Em termos sintéticos, ela diz que alguém só se torna fora de série no que faz depois de dedicar 10 mil horas à prática daquilo.

Tocar, dançar, pintar, jogar botão, xadrez, dar palestra, obturar dentes. Tempo, muito tempo. 10 mil horas, aproximadamente.

Mas tempo só não basta. Porque muito tempo fazendo a mesma coisa da mesma maneira, faz de alguém, no máximo, um especialista na mesma coisa da mesma forma o tempo todo.

Além de tempo é preciso experiência. Ter enfrentado situações diferentes. Problemas complexos, até insolúveis à primeira vista. Ter quebrado muito a cabeça. E a cara. Ter errado. Errado muito. Perdido tempo, sono, paciência. Ter tentado. Assim e assado. Deste lado, do outro lado. Frito, cru, empanado, gratinado.

Como Thomas Alva Edson, ter descoberto pelo menos as 999 maneiras de fazer errado. Até que acertou. Consertou. Acho o caminho certo. Aprendeu. E é exatamente por isto que tempo e experiência não bastam. É necessário ter passado pelo processo de aprendizado. E ter aprendido. Ter adquirido sabedoria, discernimento. Fruto de experiência, tempo, reflexão, aprendizagem, aprendizado.

 

3. Ter, depois disto, adquirido uma intuição treinada, em que cada novo desafio fica com cara de dejá vu.

Já vi algo assim antes - é a primeira coisa que passa na cabeça de um expert quando lhe apresentam um novo problema.

E já terá visto mesmo. Talvez não e-xa-ta-men-te aquilo, aquele, daquele jeito mas algo muito, muito parecido. Ele sabe como as coisas funcionam. E como as fazer funcionar quando não estão funcionando.

Cirurgião, mecânico, técnico de vôlei, bordadeira, cozinheira, chefe de cousine, terapeuta, advogado, arquiteto, maquiador, enfermeira, mestre de obra, e todo bom consultor, todos sabem, todos já sabem o que está fora do lugar e como arrumar.

 

4. O problema é que um expert é caro?

Gaste o quanto quiser?!…. só mesmo em filme!

Quem pode se dar a este luxo? Poucos, bem poucos. Quantas empresas? Poucas. Quase nenhuma. Pensando bem, nenhuma mesmo.

Receita é desejo. Despesa é fato.

Receita se conjuga no futuro do presente, ganharei.  Às vezes só no futuro do pretérito, ganharia… mas não ganhei.

Já despesas, se conjuga em tudo que é tempo. Presente, passado, futuro e principalmente no gerúndio, como no callcenter: vamos estar gastando. Sempre.

Mesmo quando o dono da empresa diz que agora é só no imperativo negativo: não gaste tu, não gaste ele, não gaste ela, não gastemos nós, vós também não haveis de gastar, nem eles, nem ninguém, que quem manda aqui sou eu.

Por que no Reino do Lado-de-cá-da-tela, rei são mortos, reis postos, mas das despesas com os impostos ninguém consegue se livrar.

E é por isto que um expert não é caro. Pode até custar bastante mas não é caro.

Caro é só aquilo que não vale o quanto custa. Por isto um expert, expert mesmo, é barato, muito barato.

 

5. Um expert diminui os riscos e as perdas.

Enquanto a solução não é encontrada o nervo fica exposto. A reputação da empresa idem. O vazamento de óleo continua. O mau cheiro também. O dinheiro escorrendo pelo ralo e pelo ladrão. As despesas aumentando e o resultados não vindo.

Quando a solução é rapidamente encontrada pára a dor. A reputação é salva. Pára a sangria, o bom clima retorna, a paz de espírito, o ralo é tapado, ladrão é preso.

 

6. Um expert antecipa os retornos e aumenta a receita.

Quando os esforços voltam a ser direcionados para o que interessa, as despesas diminuem, resultados retornam. Maiores, melhores, mais consistentes, mais rápido.

O que só ia dar pra fazer – do jeito que a gente estava fazendo – daqui a um tempão, dá prá fazer já, deu prá fazer ontem. Já foi entregue, faturado e pago. Está salvo o Fluxo de Caixa. Estourem-se os rojões.

O expert saiu de graça. Pela poupança dos gastos desnecessários e pelo ganho com as receitas não esperadas.

 

7. Um expert substitui esforço por resultado.

Como não tem envolvimento com os jogos de poder da organização, não está procurando um lugarzinho para ele no organograma, está livre para pensar, para perguntar, para desafiar o status quo.

Não vai participar nem do grupo de trabalho, nem do comitê, nem do projeto, nem sequer de reunião para decidir como colocar mais gente para empurrar o piano ladeira a cima.

Vai menos responder perguntas difíceis do que fazer mais as mais fáceis. Não todas, só as certas, as que fazem pensar.

Por quê um piano? Por que ladeira acima? Por que naquela ladeira, por que agora, por que este cliente, por que este esforço, qual o resultado, por quê deste jeito, qual a maneira mais fácil, por quê não trazer o cliente aqui para baixo, por que não oferecer um teclado, um CD ou um Ipod?

 

8. Um expert evita retrabalho. Re-conserto. Reconstrução. Remendo. Re-tudo.

Quer dor maior do que ter de voltar para a mesa de cirurgia? Ter de ir buscar o bisturi esquecido ou para operar a perna certa.

Recuperar o bebê que se foi com a água do banho. Fazer tudo de novo. Botar tudo abaixo. Começar do zero, do menos 10, tomando de 10 a zero.  Botando mais dinheiro para desfazer o que foi feito errado. Na tentativa e erro, cruzando os dedos. Até os do pé. Pé de pato, mangalô treis veis !

E daqui há pouco está tudo igual! Ou bem pior. O conserto ficou ruim, tá vazando de novo. A emenda ficou maior que o soneto. O remendo fez do furo um rombo. E a lama tá subindo.

E lá vamos nós de novo.

 

9. É, mas um expert custa um dinheirão!

É, é verdade, formar um expert custa mesmo um dinheirão, custa mesmo um dinheirão para alguém se tornar um expert. Custa também um tempão, um montão de horas, dedicação, estudo e de paixão.

Mas para quem contrata custa muito menos. Muito menos.

A seleção é feita pelo mercado, a qualidade atestada por quem já usou os serviços, o recrutamento ao custo de um telefonema.

Não entra na Folha, não tem direito a férias, a décimo terceiro, nem vale-refeição.

Não recebe carro da companhia, celular, notebook, seguro de vida, assistência médica e plano de previdência.

Não entra no plano carreira, de sucessão, nem de desenvolvimento. Já vem com todo tipo de formação e informação. Com cursos no exterior, networking formado, fontes de consulta, intercâmbios.

Às vezes até parece aparição. Não ocupa nem tempo nem espaço. Não precisa de baia, de cadeira nem de mesa. Vem, resolve tudo e vai embora.

Sim, um expert custa, como tudo que vale a pena custa. Mas custa quanto vale e vale quanto custa.

 

Finalmente, a GRANDE QUESTÃO:

Um expert nunca erra? Sim, ele erra.

Mas é muito mais difícil ele cometer um erro novo do que alguém deixar de cometer os mesmos velhos erros de sempre.

Eduardo Cupaiolo
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Expert em desenvolvimento humano e organizacional. E só nisto.

P.S.: Se o investigador encontrou o filho desaparecido? Encontrou sim. Era um expert. Já o diretor do filme…

 

Eduardo Cupaiolo é Conselheiro de vida, empreendimentos e carreira -
Fale com ele em cupaiolo@peopleside.com.br